Conferência: A dor sem nome na rota do tráfico humano

Comentário:

“Em “A Confusão das línguas entre os adultos e a criança” Ferenczy refere que a identificação ao agressor significa a sua introjecção psíquica, ou seja, a criança submetida a uma violência que esmaga a sua integridade e constituição psíquica apropria-se simultaneamente, – no seu interior – do seu agressor. Transformar o agressor real numa realidade psíquica é a única solução possível que se parece afigurar para poder manejar e, consequentemente, sobreviver psiquicamente ao atentado que lhe está a ser cometido – é que a dimensão intrapsíquica, como Ferenckzy refere, “pode ser transformada e modelada de maneira alucinatória” (…) e a agressão deixa de existir enquanto realidade exterior e estereotipada. Protegida de forma ilusória pela anulação fictícia da realidade exterior, será através de um transe traumático que a criança se manterá investida num outro lugar. Resta saber que lugar?”

Disseminário: Inteligência Artificial e Psicanálise (II)

Excerto da apresentação “Local e Ilocal – Identidade e cultura”:

“No anterior Disseminário, tive a oportunidade de dissecar e tratar a Inteligência Artificial a partir das limitações subjacentes à sua arquitectura de base – o modelo cérebro-computador ou arquitectura Von Neumann – expondo a hipótese de que o desenvolvimento da Inteligência Artificial encontra-se dissociado das emoções, das relações e das funções que nutrem e criam a inteligência no seu contexto natural, sendo, por tal, uma entidade apartada de toda a construção que nos torna humanos e inteligentes, ou seja, um actor social – cada vez mais impactante na nossa vida -, que é incapaz de reflectir e mimetizar a experiência emocional e integrar os processos inconscientes que entram em jogo na formação do desenvolvimento, pensamento e comportamento humano. Para este Disseminário foi-me lançado um desafio que concorre num outro sentido: ao invés de partir das características da criação e dos seus efeitos no criador, partir do próprio lugar do criador, na sua dimensão intrapsíquica, na sua dimensão transitiva e na sua dimensão cibernética (identidade e cultura) não obstante os campos, com demasiada frequência, se sobreporem. (…)”

https://www.repeticaoediferenca.com/

Disseminário: Inteligência Artificial e Psicanálise (I)

Excerto:

“Psicanalizar” a Inteligência Artificial ou pelo menos problematizar o conceito do ponto de vista psicanalítico foi o objectivo a que eu me propus nesta conferência. Por assim ser fui reunindo algumas questões que naturalmente falaram para mim… e que vos irei apresentar.

O que é a inteligência e como se liga ao funcionamento do aparelho psíquico?

Quais as consequências de isolar a inteligência, ou talvez mais concretamente, os aspectos cognitivos e racionais do contexto psíquico onde ela nasce?

O que é que a Psicanálise enquanto corpo teórico e clínico poderá dizer sobre esta separação (ou será antes uma clivagem no sentido psicanalítico do termo?)?  

A Inteligência Artificial mimetiza o funcionamento da inteligência humana? 

Se sim, o que significa transferir esta função(ões) para um sistema autónomo aos seres humanos, sobretudo, um sistema autónomo que é infinitamente mais célere do que nós?

O que dizer da ausência de corporalidade da Inteligência Artificial? E, ainda, da sua futura possibilidade de robotização?

O que é acontece à dimensão inconsciente neste processo de deslocamento da inteligência humana para um contexto artificial?

O que descobrimos se concebermos a IA como um objecto psicanalítico, portanto, não só como objecto de estudo psicanalítico, mas resultado do próprio desejo humano? Que leituras possíveis do ponto de vista freudiano, lacaniano e fairbairniano?” 

https://www.repeticaoediferenca.com/disseminario

Conferência: Contraponto: Musicalidade, afecto e relação

Excertos do comentário:

“O ambiente das consultas de casal e família encontra-se impregnado de ritmos, sons e silêncios. A presença de várias pessoas em simultâneo numa sessão, com as suas relações intrapsíquicas, interpsíquicas e mundos interfantasmáticos, no espaço-tempo do cenário clínico criam uma musicalidade própria: conversas entrelaçadas, transições, quebras, ecos, sobreposições, interrupções e fragmentações compostas por componentes infra-verbais, gestuais e expressivas que resultam numa maior complexidade de trocas verbais entre os membros do grupo.  Por tal, porventura, conseguirmos estar mais atentos para o capturar o som das articulações rítmicas da linguagem verbal e das interações entre os componentes do grupo familiar, incluindo a nossa, poderemos ficar mais próximo das formações inconscientes sem figurabilidade que expressam elementos impensáveis ​​e indizíveis e que têm uma implicação profunda no outro(…)”.

Conferência: Psicoterapia Psicanalítica: Evidências Científicas

Resumo: Podemos finalmente afirmar com confiança que a base de evidência científica da psicoterapia psicanalítica é forte e credível e que a psicoterapia psicanalítica é eficaz no tratamento de uma ampla gama de condições e distúrbios de saúde mental. Uma antipatia histórica pela pesquisa na comunidade psicanalítica está, portanto, a dar lugar, cada vez mais, ao envolvimento activo e voluntário no campo da investigação. Além disso, depois de uma série de tentativas precárias (como por exemplo, estudos com amostras de pacientes muito pequenas, etc), a investigação em psicoterapia psicanalítica está a tornar-se muito mais concisa e metodologicamente rigorosa. Dessa forma, a pesquisa em psicoterapia psicanalítica está a começar a acompanhar o grande número de RCTs metodologicamente realizados noutras formas de terapia, como as terapias cognitivo-comportamentais. 

“As investigações relativas à eficácia das psicoterapias psicanalíticas têm vindo a expandir-se ao longo dos últimos anos e actualmente existe um número muito considerável de estudos que examinaram a eficácia das psicoterapias psicanalíticas de curto prazo, de longo prazo e dos modelos aplicados a condições psicopatológicas específicas.

Uma das descobertas mais interessantes destes estudos foi a constatação consistente do aumento significativo do “effect sizes/ tamanho de efeito” encontrada nos estudos de “follow-up” de longo termo, ou seja, verificou-se que os pacientes continuaram a efectuar ganhos consideráveis muito depois do acompanhamento ter terminado.

Encontraram-se ainda evidências de que outras modalidades de terapia não psicanalíticas poderão ser eficazes devido à inclusão das próprias técnicas e processos psicanalíticos”.

Fonte: British Psychoanalytic Council

Uma psicoterapia enraíza-se e aprimora-se numa aliança terapêutica construída entre o psicoterapeuta e o cliente/paciente. Envolve, por tal, um vínculo forte entre ambos, bem como um acordo sobre os objetivos e tarefas do tratamento (Cuijpers et al., 2008, Lambert , 2004; Karver, et al., 2006; Norcross, 2011; Shirk & Karver, 2003; Wampold, 2007).
A psicoterapia, quer seja individual, em grupo, em casal ou ou família, é uma prática desenvolvida de forma diversa que visa proporcionar o alívio dos sintomas, reduzir futuros episódios sintomáticos, melhorar a qualidade de vida, promover o funcionamento adaptativo no trabalho ou na escola e nos relacionamentos, aumentar a probabilidade de gerar escolhas de vida saudáveis, oferecendo ainda outros benefícios estabelecidos pela colaboração entre o cliente/paciente e o psicoterapeuta (American Group Psychotherapy Association, 2007; Task Force da APA sobre Práticas Baseadas em Evidências, 2006; Burlingame, et al., 2003; Carr, 2009a, 2009b Kosters, et al., 2006; Shedler, 2010, Wampold, 2007, 2010);

Fonte: American Psychological Association (APA)

“A investigação científica demonstra que a psicoterapia é uma metodologia eficaz para uma variedade de problemas de saúde mental e comportamental em diversos grupos populacionais. Os efeitos médios da psicoterapia são maiores do que os efeitos produzidos por muitos dos tratamentos médicos disponíveis.

Grandes estudos multi-localizados e meta-analíticos demonstraram que a psicoterapia reduz a incapacidade, morbidade e mortalidade; melhora o funcionamento do trabalho; e diminui a hospitalização psiquiátrica.

A psicoterapia ensina aos pacientes habilidades para a vida que duram além do curso do tratamento. Os resultados da psicoterapia tendem a durar mais que os tratamentos psicofarmacológicos e raramente produzem efeitos colaterais prejudiciais.

Embora a medicação seja apropriada em alguns casos, a pesquisa mostra que uma combinação de medicação e psicoterapia é frequentemente mais eficaz no tratamento da depressão e da ansiedade. Deve notar-se também que os efeitos produzidos pela psicoterapia, incluindo aqueles para diferentes faixas etárias e num espectro de distúrbios de saúde mental e física, são frequentemente comparáveis ou melhores do que os efeitos produzidos por tratamentos medicamentosos para os mesmos distúrbios sem o potencial de efeitos colaterais nocivos que os medicamentos costumam acarretar”.

Fonte: American Psychological Association (APA)

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